terça-feira, 27 de julho de 2010

Fragmentos e colagens

Ninguém é tão-somente alegria;
Nada é tão-somente sofrimento.
Somos feitos de fragmentos, denominados momentos, que depois de colados são tomados por vida.
Às vezes, por uma impressão puramente frequêncial, juntamos os fragmentos de maior ocorrência, aqueles que mais se assemelham, e tomamos a vida toda como um recorte feito a partir de tais ocorrências. Assim, dizemos ter uma vida alegre ou sofrida, nos dizemos felizes ou tristes.
O que esqueçemos é que somos constituídos por inúmeras forças que nos atravessam constantemente e que, no momento em que elas nos atravessa, nos tornamos outro.
Já não cabe cristalizar toda a existência em identidades momentâneas.
Fragmentos e retalhos dizem ser a vida. Porém, o que mais importa não é a colagem desses fragmentos e sim o fluxo que os põe em movimento, a força que os põe em fragmentação.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

A última quimera.

Cada ano me enterro um pouco!
A vez primeira em que me enterrei foi aos 15,
depois aos 18, aos 20 e a cada ano é jogado mais um pouco de terra sobre o cadáver algoz
Já não sinto aquela esperançazinha de antes,
tampouco a vontade de fazer diferente.
E bem verdade que ainda penso, não como outrora,
mas ainda há algo de inexorável em meu ser!

terça-feira, 20 de julho de 2010

Boas possibilidades só te acontecem nos momentos impróprios, inoportunos e inesperados; às vezes, morre no dilema da escolha!

domingo, 18 de julho de 2010

Sonhos, quantos sonhos!

Eita!
Derrepente eu sonhei que não mais queria sonhar,
porque o sonho, no sonho, era feito de lágrimas, sofrimentos e desencontros,
igual a vida que se passa e teimamos em tomá-la por real.

O que me move é um querer

Seja qualquer o caminho
A estrada é longa,
As certezas mínimas;
E a caminhada nem sempre é firme,
Nem sempre é breve,
E muitas vezes surpreendente.

E tudo que eu fiz, confesso!
Foram tentativas de acerto.
Sejam as respostas ásperas,
Os pedidos de desculpa,
Os sorrisos incontroláveis,
O silêncio!

Algo me diz que muito há de ser experimentado,
Aprendido,
Construído,
Transformado,
Destruído e esquecido.

O que não cabe é parar!
Prender-me,
Acreditar em impossibilidades,
Privar a vontade de descobrir;
Ser comedida em momentos que o que mais quero é arriscar.

O que me move é um querer!

Entre rupturas e formas mortas.

Somos todos rupturas e materia morta. Se pensarmos que a todo o momento estamos deixando de ser e sendo algo que até então não éramos, viramos um ponto de ruptura do que fomos mesclados as tais coisas que não existem mais, enquanto puras, mas que não deixaram de ser completamente pois ainda existem no que agora é. Assim, tornamo-nos coisas que a todo o momento pode irromper do real e a podridão deixada pelos restos do morrido. A pele, maior órgão do corpo, assim continua a existir, e somente assim! Crescemos, mudamos, esticamos, e a pele, com sua incrível capacidade de reorganização, torna-se outra no momento preciso.
Todas as coisas que nos constituem são também assim, ou deveriam ser! A alma, que dizem alguns, ser o que nos difere dos demais animais, deveria aprender, e muito, com a pele. No entanto, somos incapazes de aprender com a pele! Apegamo-nos as coisas antigas – sejam elas o que for- como se fossem as últimas coisas existentes, a última coca-cola no deserto. Diante disso, não produzimos rupturas, não percebendo que ela se faz necessária para mantermos seja uma pela mais bonita e jovial ou uma alma aprendiz. Assim, tentamos desesperadamente dar vida a uma matéria já morta, que poderia produzir muito, não fosse o fato de querermos dá-lhe vida, e assim, nada produz além de podridão. Torna-mo-nos cadáver algoz em uma incessante busca que não tem resultados tangíveis. E, ao invés de perceber as rupturas e as formas mortas como forças constituintes, as tomamos por desafeto e assim, nos tornamos inertes em nós mesmos.

sábado, 17 de julho de 2010

Que eu me contradiga,
Que eu me diga.
Que eu seja; já não sou!
Que eu desapareça;
Que assim não seja;
Que eu tenha sido,
Essa sim, já sou!

Entre tantas coisas

Conversas fiadas e afiadas.
filosofia barata de botequim.
Expressão de impressões ou impressão de expressões!
São também essas coisas entre tantas outras.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Ética, Psicologia e "assassinos"!

Segundo Leila Machado, “a ética não seria uma reprodução, mas uma criação; não seria uma aplicação de regras pré-estabelecidas, mas o uso de regras facultativas”. Assim, nos aproximamos da concepção normal/patológico proposta por canguilhem. Logo, o ser normal canguilheniano torna-se o ser ético Machadiano.
Porém, não é tal concepção que prevalece na contemporaneidade. O homem que vai à rádio pedindo escuta torna-se ser doente. A todo o momento os discursos Psi amolam suas facas, fabrica-se indivíduos, como nos aponta Baptista.
O que há em comum entre um pai que mata a filha, um ex-amante que esquarteja e joga o cadáver de sua ex-companheira aos cães e um homem que vai à rádio desesperado ameaçando cometer homicídio e suicídio e pedindo, apenas, para ser ouvido?
Os muitos profissionais Psi estão aí para responder. Tudo que escandaliza a sociedade, que põe em cheque suas muitas regras morais, é visto como transcendente dela e imanente ao indivíduo. Este - O indivíduo – em tais casos, não é visto ou entendido como constituído e constituinte das condutas sociais. As entendidas barbáries cometidas são imputadas ao indivíduo, unicamente ao indivíduo! É-nos mais cômodo enquanto sociedade.
Assim, para o indivíduo agora enfermo, busca-se explicação não para sua conduta, mas, sobretudo, para sua doença. Assistimos ao novo paradigma ético que permeia a contemporaneidade, a saber, a biologização da conduta social. Conquanto, assistimos a ascensão de um novo modo de subjetivação contemporâneo designado por Ortega como “sujeito cerebral”. Este termo resume adequadamente a redução da pessoa humana ao cérebro."A partir da concepções do homem e do sofrimento mental cada vez mais neurofisicalistas acaba-se adotando condutas profissionais medicalizantes de caráter universalista e reducionista". A psiquiatria medicamentosa volta a ocupar lugar de destaque e, mais do que nunca, não só se produz indivíduos como se produz usinas de produzir indivíduos – produção massificada e serializada de subjetividade!
O que há em comum entre o endemoninhado da idade média, os leprosos, prostitutas, venéreos e loucos da renascença, os alienados pelas paixões do século XIX e os que cometem crimes ditos hediondos na contemporaneidade é o enquadramento em categorias pré-determinadas, que mais fala sobre nossa incapacidade de conviver com o diferente e tão simplesmente escutar a respiração presa nas situações de terror, do que dos enquadrados por nós.
Ao enquadrarmos pessoas - falo enquadrarmos enquanto futura profissional Psi e como tal, exposta ao risco de também produzir massificamente subjetividade- em categorias definidas do que sejam a normalidade ou a patologia, a pomos sobe o regime da moralidade, esta entendida na perspectiva de Espinosa a qual se vincula tão somente à sobrevivência.
Moral contrapõe-se nesse sentido à ética. Ética, na mesma perspectiva de Espinosa, vincula-se à vida, pois ela é um “exercício da liberdade ou a própria experiência da liberdade. Esta se configura quando nossa potência de agir aumenta junto das produções coletivas e é contrária à servidão” . Assim, aprisionado os ditos loucos ou tirando-lhes suas humanidades sobe o jugo de um pretenso saber científico, elas perdem seu mais precioso valor, qual seja, a dignidade. Então, nos indaga Bauman: “uma vez privados desse valor, qual a vantagem de permanecerem vivas? O valor, o mais precioso valor dos humanos, o atributo sine qua non da humanidade, é uma vida digna, não a sobrevivência a qualquer custo”.
Devemos, portanto, tomar cuidado para na busca da sobrevivência de nosso próprio saber, não assassinarmos a humanidade de outros seres humanos, para que esse saber – e nos mesmos, como bem aponta Bauman – não sobreviva à morte de sua própria humanidade.