Ele devolveu a pureza que eu havia esquecido em
algum canto do rancor. Voltei a sorrir como uma menina e me sentia tão leve
como o bater de asas da borboleta. Eu era uma borboleta em graça, leveza e
encanto. Estava absolutamente diferente,
mas isso não espantava, atraía. Eu era toda sentimento, o mar me invadia e eu
me tornava sol. Quanto mais ele sugava de mim, mas eu me tornava minha. Nosso
encontro fora algo inexplicável num mundo confuso. O reencontro, forjado por
todos e garantido por ninguém. Não foi por acaso, mas contra todos os acasos
que ele se deu. A permanência, tão improvável quanto o amor de uma puta. Não
falávamos o mesmo idioma, mas a compreensão já havia se dado por outros meios.
Nossos olhos conversavam sem que precisássemos dizer outras coisas. Estavam
famintos pelo desconhecido. Dançamos. Eu tentava entender o que nos acontecia.
Era inútil. Os passos dele eram ambíguos e incertos. Não sei exatamente quando
o conquistei, se é que isso se deu. Não me agoniei, soube esperar. A
impaciência, nesses casos, pode espantar o devir. Por vir, estávamos nós, a
sós, na gruta em frente ao mar num ar propício para amar, não a ele, ainda era
cedo para isso, mas aquele momento. Algumas palavras, poucos gestos e um
desejo...o beijo! Era ele quem precipitava e tão logo se aquietava porque não
se tratava mais de dois estranhos. Os corpos dormiam, nossas almas se tocavam. Quando
nasceu, o beijo foi nostálgico, já continha em si uma certa melancolia, uma
espécie de luto antecipado. E os corpos, quando conversaram, foi uma espécie de
bruxaria. Cada toque era um aumento do mundo e uma dissolução de mim. Meu corpo
era pequeno pra caber tanto sentimento, estava possuído por uma outra vida,
entrava n’outra via, vivia, enfim. Aquele encontro foi um conto em cada canto
de mim. Foram sinceros aqueles dias, entre a dor e a alegria nos amamos esperando
pelo fim.